sábado, 10 de maio de 2025
Évora - Fotos tiradas pela minha mulher
sexta-feira, 25 de abril de 2025
Despedida
Querida Any
Peço-te desculpa por me terem dado a volta no dia 8 de Abril de 2025, pois que era para teres saído do hospital nesse dia. Deram-nos mesmo a volta com a conversa que era preciso mais exames, quando o meu inconsciente dizia que não.
O que se passou no Hospital privado não deveria ter acontecido. E eu deveria ter percebido mais depressa e mais cedo a situação anafilática que estavas a sentir, a qual se deveu a um medicamento dado para as dores ao qual tinhas alergia.
Havia tanta coisa para dizer e para falar,
Bem sei que íamos falando sobre elas,
Sobre o que fazer caso um de nós parte primeiro,
Como é que possível sentir-me perdido.
Como é possível realizarem exames desnecessários, quando se diz aos médicos, desculpe mas não temos nada disso, com que cara ficarão, depois de nos cobrarem valores incomensuráveis, para depois verificarem que todas as análises que eles apostavam deram negativo.
Sim, picadela para aqui, picadela para aí, a transfusão a entrar e a temperatura a subir, mesmo que os tenha avisado que tal não deveria suceder, porque aquela não era de forma nenhuma a temperatura normal.
A tentativa no dia 11/04/25 de tentarem que ficasses ainda mais tempo, tendo-lhe que lhes dizer, já tem aí a declaração e já ontem solicitei uma folha A4 para a fazer, a qual não me foi dada. Na verdade, se o sistema público funciona mal, o sistema privado baseado no pagamento antecipado, deveria de alguma forma ser revisto.
É estranho sentir-me culpado de não ter percebido que era tudo devido a um medicamento que te fez alergia, mas a enfermeira que te levou ao RX reparou e disse, só que ela própria não sabia ou não queria dizer que medicamento te tinham dado.
Peço desculpa, por não te ter conseguido socorrer mais, mas chamei o INEM o qual apareceram em menos de 5 minutos, e começaram as tentativas de reanimação em casa, tendo continuado na ambulância e no Centro de Saúde.
A sensação estranha que durou toda a madrugada, que tu tinhas desaparecido, e que como despedida olhaste para mim e só muito tarde largaste as minhas mãos. O pânico de saberes que ias novamente para o Hospital.
Minha querida Any, o médico que me deu a notícia, disse aquilo que eu não queria ouvir, «A sua esposa faleceu», sabe de que é que ela sofria ou quer que seja feita autópsia? Não o teu corpo não iria ser retalhado, nem medido nem pesado, pois que todos os exames mostravam que o que tinhas era uma anemia, e que essa anemia era de alguma forma hereditária, e que apesar de poder existir algumas perdas sanguíneas por aqui e por ali, não tinha nada que ver com aquilo que eles estavam a tentar diagnosticar. Tinha sido mesmo uma questão de ter perguntado quantas pessoas da tua família tinham anemia.
Minha querida Any, iremos nos encontrar um dia, não sei onde, nem como, nem quando.
Minha querida estejas onde estiveres, estarás sempre presente no meu pensamento, além do que estou sempre a interrogar-me sobre «como é que a Any faria isto ou aquilo.
Um grande beijinho de SAUDADE.
sábado, 19 de abril de 2025
Luto por falecimento da companheira
Digam o que disserem, o Luto pela morte da nossa companheira de vida, é uma situação quase inultrapassável. Ficamos marcados, podemos ir vivendo, mas é algo que se agarra à nossa pele e não nos larga.
Por muitos estudos que tenham sido feitos sobre o Luto e as suas diversas fases, a realidade é por vezes bem outra. O facto de sabermos as fases do luto, não significa porém, que este esteja ou fique alguma vez resolvido.
O CHOQUE de sentir alguém que amamos que se esvai nos nossos braços, sem conseguirmos ajudá-la, mesmo que o nosso inconsciente nos diga, é impossível ajudá-la, «chama mas é o 112». E quando este chega, verificam a ultra-urgência da situação, pois que o coração está a parar, as suas funções vitais estão cada vez mais débeis.
A NEGAÇÃO existe, negamos o inevitável, e «queriamos» que tal não tivesse acontecido, e continuamos a negar, achando que poderíamos ter feito mais alguma coisa, e que nos passou ao lado os diversos sinais que estavam lá, mas não quisemos ver.
A RAIVA esta vira-se contra nós próprios, sabemos que a nossa companheira deveria ter ido ao médico, e foi ao médico, porém se o nosso médico ouvia e tentava suavizar as coisas, os «ultra especialistas» parece que não querem perceber, esquecem-se da anamnese, fazem-se esquecidos de falar com os familiares e essencialmente de os ouvir.
É complicado quando a nossa mulher nos diz, olha quando estiver a «morrer faz-me o favor de pedir para me darem morfina», pois que quero partir em paz, e não quero estar a sofrer horas e dias a fio, nem sequer quero estar ligada a uma máquina.
A NEGOCIAÇÃO sempre me perguntei sobre os estadios de desenvolvimento se as coisas seriam exactamente como são descritas nos livros. Com quem vamos negociar o falecimento de alguém que nos é querido? Negociar o quê e com quem? É complicado, não sei mesmo se algum dia irei sair da fase da RAIVA. O choro aparece subitamente, qualquer pequena coisa nos traz lembranças e recordações, e mesmo que façamos desaparecer objectos, roupas e tudo o mais, tudo, mas tudo fica connosco quer queiramos quer não.
A DEPRESSÃO neste aspecto tenho uma opinião um pouco diferente. A depressão existe logo a partir do primeiro momento do luto, podemos é não mostrá-la nem senti-la, mas ela existe, e sentimos a perda como perda. A depressão é algo que tem que ser vivenciada, podemos arejar, podemos sair, mas aquele fundo, a sensação de perda está lá, e uma coisa é garantida, não à pastilha, nem qualquer medicamento que consiga resolver a depressão por luto. Pois que vamos ter que continuar a lutar diariamente para conseguir ir vivendo.
A ACEITAÇÃO esta fase pode ser mais complicada do que parece, e em certo sentido e por muitas obras escritas sobre este estádio, é complicado de perceber, e pode levar mesmo muitos anos a conseguir aceitar a situação. Uma coisa é certa, não nos conseguimos desligar de um momento para o outro, além do que o desgosto pode quer queira quer não levar-nos a ir atrás da nossa companheira, ou de preferir ficarmos sozinhos do que arranjar outra companhia.
Se querem saber, não consigo passar da fase de Negação e Raiva, e também não sei se algum dia conseguirei passar estas fases. Talvez me encontre numa fase intermédia e não a consiga entender nem agora nem nunca.