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sábado, 19 de abril de 2025

Luto por falecimento da companheira

 Digam o que disserem, o Luto pela morte da nossa companheira de vida, é uma situação quase inultrapassável. Ficamos marcados, podemos ir vivendo, mas é algo que se agarra à nossa pele e não nos larga.

Por muitos estudos que tenham sido feitos sobre o Luto e as suas diversas fases, a realidade é por vezes bem outra. O facto de sabermos as fases do luto, não significa porém, que este esteja ou fique alguma vez resolvido.

O CHOQUE de sentir alguém que amamos que se esvai nos nossos braços, sem conseguirmos ajudá-la, mesmo que o nosso inconsciente nos diga, é impossível ajudá-la, «chama mas é o 112». E quando este chega, verificam a ultra-urgência da situação, pois que o coração está a parar, as suas funções vitais estão cada vez mais débeis.

A NEGAÇÃO existe, negamos o inevitável, e «queriamos» que tal não tivesse acontecido, e continuamos a negar, achando que poderíamos ter feito mais alguma coisa, e que nos passou ao lado os diversos sinais que estavam lá, mas não quisemos ver.

A RAIVA esta vira-se contra nós próprios, sabemos que a nossa companheira deveria ter ido ao médico, e foi ao médico, porém se o nosso médico ouvia e tentava suavizar as coisas, os «ultra especialistas» parece que não querem perceber, esquecem-se da anamnese, fazem-se esquecidos de falar com os familiares e essencialmente de os ouvir.

É complicado quando a nossa mulher nos diz, olha quando estiver a «morrer faz-me o favor de pedir para me darem morfina», pois que quero partir em paz, e não quero estar a sofrer horas e dias a fio, nem sequer quero estar ligada a uma máquina.

A NEGOCIAÇÃO sempre me perguntei sobre os estadios de desenvolvimento se as coisas seriam exactamente como são descritas nos livros. Com quem vamos negociar o falecimento de alguém que nos é querido? Negociar o quê e com quem? É complicado, não sei mesmo se algum dia irei sair da fase da RAIVA. O choro aparece subitamente, qualquer pequena coisa nos traz lembranças e recordações, e mesmo que façamos desaparecer objectos, roupas e tudo o mais, tudo, mas tudo fica connosco quer queiramos quer não. 

A DEPRESSÃO  neste aspecto tenho uma opinião um pouco diferente. A depressão existe logo a partir do primeiro momento do luto, podemos é não mostrá-la nem senti-la, mas ela existe, e sentimos a perda como perda. A depressão é algo que tem que ser vivenciada, podemos arejar, podemos sair, mas aquele fundo, a sensação de perda está lá, e uma coisa é garantida, não à pastilha, nem qualquer medicamento que consiga resolver a depressão por luto. Pois que vamos ter que continuar a lutar diariamente para conseguir ir vivendo.

A ACEITAÇÃO esta fase pode ser mais complicada do que parece, e em certo sentido e por muitas obras escritas sobre este estádio, é complicado de perceber, e pode levar mesmo muitos anos a conseguir aceitar a situação. Uma coisa é certa, não nos conseguimos desligar de um momento para o outro, além do que o desgosto pode quer queira quer não levar-nos a ir atrás da nossa companheira, ou de preferir ficarmos sozinhos do que arranjar outra companhia.

Se querem saber, não consigo passar da fase de Negação e Raiva, e também não sei se algum dia conseguirei passar estas fases. Talvez me encontre numa fase intermédia e não a consiga entender nem agora nem nunca.

 


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