Querida Any
Peço-te desculpa por me terem dado a volta no dia 8 de Abril de 2025, pois que era para teres saído do hospital nesse dia. Deram-nos mesmo a volta com a conversa que era preciso mais exames, quando o meu inconsciente dizia que não.
O que se passou no Hospital privado não deveria ter acontecido. E eu deveria ter percebido mais depressa e mais cedo a situação anafilática que estavas a sentir, a qual se deveu a um medicamento dado para as dores ao qual tinhas alergia.
Havia tanta coisa para dizer e para falar,
Bem sei que íamos falando sobre elas,
Sobre o que fazer caso um de nós parte primeiro,
Como é que possível sentir-me perdido.
Como é possível realizarem exames desnecessários, quando se diz aos médicos, desculpe mas não temos nada disso, com que cara ficarão, depois de nos cobrarem valores incomensuráveis, para depois verificarem que todas as análises que eles apostavam deram negativo.
Sim, picadela para aqui, picadela para aí, a transfusão a entrar e a temperatura a subir, mesmo que os tenha avisado que tal não deveria suceder, porque aquela não era de forma nenhuma a temperatura normal.
A tentativa no dia 11/04/25 de tentarem que ficasses ainda mais tempo, tendo-lhe que lhes dizer, já tem aí a declaração e já ontem solicitei uma folha A4 para a fazer, a qual não me foi dada. Na verdade, se o sistema público funciona mal, o sistema privado baseado no pagamento antecipado, deveria de alguma forma ser revisto.
É estranho sentir-me culpado de não ter percebido que era tudo devido a um medicamento que te fez alergia, mas a enfermeira que te levou ao RX reparou e disse, só que ela própria não sabia ou não queria dizer que medicamento te tinham dado.
Peço desculpa, por não te ter conseguido socorrer mais, mas chamei o INEM o qual apareceram em menos de 5 minutos, e começaram as tentativas de reanimação em casa, tendo continuado na ambulância e no Centro de Saúde.
A sensação estranha que durou toda a madrugada, que tu tinhas desaparecido, e que como despedida olhaste para mim e só muito tarde largaste as minhas mãos. O pânico de saberes que ias novamente para o Hospital.
Minha querida Any, o médico que me deu a notícia, disse aquilo que eu não queria ouvir, «A sua esposa faleceu», sabe de que é que ela sofria ou quer que seja feita autópsia? Não o teu corpo não iria ser retalhado, nem medido nem pesado, pois que todos os exames mostravam que o que tinhas era uma anemia, e que essa anemia era de alguma forma hereditária, e que apesar de poder existir algumas perdas sanguíneas por aqui e por ali, não tinha nada que ver com aquilo que eles estavam a tentar diagnosticar. Tinha sido mesmo uma questão de ter perguntado quantas pessoas da tua família tinham anemia.
Minha querida Any, iremos nos encontrar um dia, não sei onde, nem como, nem quando.
Minha querida estejas onde estiveres, estarás sempre presente no meu pensamento, além do que estou sempre a interrogar-me sobre «como é que a Any faria isto ou aquilo.
Um grande beijinho de SAUDADE.